Texto de Gabriela Saliba para o nosso GT Saúde
A escalada é um esporte que demanda extrema força de dedos e mãos. De escaladora para escaladora, vamos conversar sobre a saúde desse complexo sistema composto por 27 ossos, diversos músculos e vários movimentos?
Nossas mãos são capazes de realizar diversas ações: pinçar, espremer, apertar, puxar, empurrar, torcer, digitar, tocar um instrumento, cozinhar, pentear, massagear, semear e escalar. A oponência por exemplo, nenhuma outra parte de nosso corpo executa.
Além da demanda que nosso esporte exige, cada vez mais as nossas mãos têm sido sobrecarregadas com o uso excessivo de celular. Este fato tem sido estudado por diversos profissionais da saúde, constatando dependência, adicção e dores nas mãos, pois a cada clique realizado pelo polegar há um movimento de extensão, e isso feito repetidas vezes pode vir a causar microlesões no tendão extensor e gerar uma inflamação. O mesmo pode ocorrer na articulação da base do polegar, que se inflama pelo excesso de atrito do movimento circular deste dedo.
Algumas lesões são comuns na escalada, como ruptura de polia total e parcial, dedo em gatilho, lesões de ligamento colateral lateral, túnel do carpo, lesão do complexo da fibrocartilagem triangular. E aí surge a pergunta de um milhão de euros, “Como prevenir lesões na escalada?”.
As melhores estratégias para ter longevidade no esporte são:
1. Aquecer bem antes de entrar em seus projetos. Pense no corpo como um todo, falando de membros superiores (dedos das mãos, mãos, punho, antebraço, cotovelo, braço, ombro e cervical).
2. Menos é mais, descansar também é evoluir. Você pode optar por um descanso ativo realizando outra prática esportiva.
3. Não insista “20 vezes” na mesma via no mesmo dia, principalmente se as agarras forem minúsculas, ou num estilo bem diferente do que você está acostumada ou se a via for de um grau de exigência que é seu limite.
4. Varie os estímulos de movimentação corporal, o seu cérebro agradece. Isso inclui buscar vias, picos e também estilos de escalada diferentes.
5. Crie o hábito de fazer uma auto-observação e estabelecimento de redução de horas de uso do celular ou intervalos. Utilize o recurso do aplicativo de conversor de voz-em texto e mensagens.
6. Ouça seu corpo! Por vezes, não valorizamos uma dorzinha diferente que surge de leve, mas, pode ser uma lesãozinha chegando sorrateiramente.
7. Não pule etapas, consolide um grau antes de ir para o próximo.
8. Busque uma profissional de educação física para te orientar em seus treinos e prepare seu corpo.
9. O gelo pode ser uma boa opção de recovery pós-treino, assim como as sessões de massagem, liberação miofascial (não de forma imediata ao treino), alongar seu corpo todo; busque a opção que o seu corpo responde melhor, ouça seu corpo!
10. Dormir bem com qualidade, se alimentar e hidratar adequadamente é fundamental.
Gabriela Saliba é escaladora e doutoranda em Ciências da Reabilitação, em seu mestrado estudou as lesões que acometem os escaladores e agora estuda a mão do escalador para sua tese de doutorado.